quinta-feira, 18 de agosto de 2016

[Cultura-Crítica Literária] "300 Dias de Sol", de Deborah Lawrenson [Presença]




Texto: Isabel de Almeida

Nova Gazeta & Diário do Distrito

Foto capa: D.R. - Editorial Presença


300 Dias de Sol, de Deborah Lawrenson, com chancela Editorial Presença assume-se como um excelente romance de mistério que, para nós Portugueses, tem a mais-valia de ter como cenário o nosso País e beleza natural das suas paisagens, protagonistas da trama de pleno direito. 

A acção decorre essencialmente em Faro, em 2014, onde a Jornalista Joanna Millard procura refúgio de uma relação amorosa que perdeu o encanto, ou que nunca passou de uma ilusão. Naquele recanto no Sul de Portugal Jo dedica-se a estudar Português, e irá travar conhecimento com o jovem Nathan Emberlin, descontraído, charmoso e bon vivant, ambos irão tornar-se muito próximos, e ver-se-ão envolvidos numa investigação acerca de crianças desaparecidas que os transporta ao Portugal do passado, em plena ditadura Salazarista, durante a II Guerra Mundial, quando o nosso país era palco de intriga, espionagem e contra-espionagem ao mais alto nível, sob a capa formal de uma neutralidade duvidosa pelo meio do conflito armado.

Nathan desperta em Jo o "bichinho" da investigação a que nunca fica imune qualquer jornalista (esteja ou não no activo), e travam conhecimento com Ian Rylands, um cidadão britânico que vive em Portugal, sendo a cara de uma organização que representa os interesses Britânicos em Portugal, mas que detém informação absolutamente privilegiada acerca de relevantes factos da história, da política e dos negócios do Sul de Portugal, num contínuo que se desenvolve desde a II Guerra Mundial até aos nossos dias.

Ao longo da leitura de todo o livro é patente o excelente trabalho de investigação que a autora realizou para sustentar adequadamente a narrativa, sendo vários os cenários e contextos reais, que foram sabiamente articulados com a ficção, dando à mesma uma feição deveras realista e verosímil.

O livro mostra-se estruturado em sete partes distintas, onde o leitor vai sendo deixando num crescendo de curiosidade e em tensão expectante quanto aos próximos passos da investigação de Jo e Nathan, chegando mesma a recear pela integridade física e pela vida dos protagonistas. Joanna é a narradora participante que vi fazendo a história desfilar perante os nossos olhos de forma bastante emotiva, sendo este mais um dos pontos altos do romance.

Adorei o facto de termos uma verdadeira história dentro da história, na medida em que o relato do passado ( a sequência de acontecimentos que decorreram durante a II Guerra Mundial) surge inserido no livro como se se tratasse de um romance auto-biográfico escrito por uma Americana que relata as peripécias de um jornalista da Associated Press e da esposa numa Lisboa cheia de espiões, com pequenos feudos bem delimitados e divididos entre: Nazis, Britânicos, Americanos, Canadianos, Espiões. E a verdade é que o efeito pretendido é alcançado, seguimos as histórias em distintos momentos históricos, aguardando ansiosamente o momento em que ambas se cruzam, trazendo revelações que nem sempre seriam previsíveis.

Curioso notar que a autora traça também um quadro de crítica politica, económica e social à vivência de um certo Portugal de interesses menos claros, que surge deveras realista aos olhos de quem vive neste nosso país com 300 Dias de Sol.

As descrições das paisagens, das cidades e de alguns locais suscitam a natural curiosidade de revisitar ou conhecer pela primeira vez estes cenários da trama.

Confesso que tenho agora a tentação de ir fazer uma visita a Faro tomar uma bica no histórico e recuperado Café Aliança, e contemplar a sua majestosa fachada.

Uma agradável surpresa literária neste verão. Um livro ideal para lermos no Algarve, ou para viajarmos até lá por entre as suas páginas, se fisicamente não tivermos essa oportunidade no imediato. Deborah Lawreson revelou-se uma exímia observadora, ou não fosse ela jornalista.


Ficha Técnica:

Título: 300 Dias de Sol


Autora: Deborah Lawrenson


Edição: Julho de 2016




Páginas: 336


Classificação atribuída no GoodReads: 4 /5


Género: Literatura de Mistério


Leia a sinopse e saiba mais detalhes sobre a obra AQUI


Conheça melhor a autora - Deborah Lawrenson AQUI


Nota de redacção: O exemplar da obra foi gentilmente cedido pelo editor para artigo de crítica literária.




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